Voos de Manaus a Tabatinga, no extremo oeste do Amazonas, em dezembro, têm sido mais caros que viagens para outros países, no mesmo período, conforme levantamento feito pelo ATUAL. Entre os dias 5 e 11 de dezembro, é mais barato ir para Bogotá, na Colômbia, ou para Santiago, no Chile, do que ir para o município amazonense.
A Azul Linhas Aéreas é a única que atende 13 municípios do Amazonas, incluindo Tabatinga. Como incentivo para atuar no estado, ela é beneficiada com a subvenção da aviação que reduziu a base de cálculo do ICMS nas operações internas com querosene e gasolina de aviação. Mesmo com o benefício, os bilhetes aéreos alcançam valores elevados.
Conforme consulta realizada nesta quarta-feira (22) no site da Azul Linhas Aéreas, as passagens de ida para Tabatinga entre os dias 5 e 11 de dezembro custam, em média, R$ 3,1 mil.
No mesmo período, é possível viajar para Bogotá por até R$ 1,7 mil, via Copa Airlines, ou para Santiago por até R$ 834, pela Latam Airlines. Veja os preços dos bilhetes aéreos.
Passagens para Tabatinga entre 7 e 11 de dezembro vendidas pela Azul (Fonte: Azul Linhas Aéreas)
Viagens para Santiago são mais baratas que para Tabatinga (Fonte: Latam)
Bilhetes aéreos de Manaus a Bogotá entre 6 e 11 de dezembro (Fonte: Copa Airlines)
O alto preço das passagens motivou o advogado Lucas Obando de Oliveira a apresentar, nesta terça-feira (21), uma representação contra a companhia no MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas). O advogado quer que o órgão apure a conduta da empresa.
“A empresa Azul Linhas Aéreas S/A vem cometendo diversos abusos, visto que aumentou os valores das passagens sem justificativa plausível e com a clara intenção de lucrar às custas da ponta mais fraca dessa relação, o consumidor”, afirma Obando, no documento.
De acordo com o advogado, as passagens em dezembro para Tabatinga chegam a ser 500% mais caras do que as de janeiro. Para Obando, trata-se de aumento abusivo. “Quando comparamos o preço da passagem para a Flórida nos Estados Unidos da América, verificamos que é praticamente metade do valor cobrado para Tabatinga”, afirmou Obando.
Além dos preços das passagens, o advogado denuncia constantes cancelamentos e atrasos, e falta de assistência aos passageiros.
O advogado também afirma que a empresa tem cancelado diversos voos, atrasado na entrega das bagagens e cometido a pratica de overbooking (venda de passagens em quantidade maior do que a capacidade). Em muitos casos, conforme Obando, a empresa não tem prestado assistência a passageiros, como transporte, alimentação e hospedagem.
“Por serem beneficiários da subvenção econômica, [as companhias] deveriam tentar aprimorar ainda mais os serviços prestados aos consumidores. No entanto, os cancelamentos dos voos em Tabatinga/AM são constantes, e, normalmente, quando ocorrem, a empresa aérea não presta as assistências previstas pela resolução da Anac”, diz Obando.
“Limitam-se a fornecer vouchers com desconto em passagem, no qual, de forma abusiva, para validá-lo é necessário abrir mãos de qualquer pretensão de direito indenizatório. Além de tudo, o consumidor ainda tem grandes dificuldades pra validá-los, pois normalmente não são aprovados”, afirmou o advogado.
Obando relata que os passageiros que despacham as suas malas “não têm a certeza de que a companhia aérea irá entregá-las no desembarque, principalmente, quando voo é realizado no avião ATR, pois por muitas vezes os consumidores estão recebendo suas bagagens com mais de dois dias de atraso”.
De acordo com o advogado, a companhia “tenta obrigar os passageiros a assinarem um termo de Recebimento de Bagagem com uma cláusula abusiva de quitação de pretensão indenizatória”.
Em maio deste ano, os problemas com a companhia foram relatados pelo deputado estadual Roberto Cidade (União Brasil), presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas).
“A Azul, além de cobrar caro, tem deixado a população do estado do Amazonas na mão. Nos poucos lugares que ela tem linha semanalmente ela tem cancelado os voos. Ela tem cancelado vôos em Tabatinga, Apuí, Tefé”, disse o deputado, em pronunciamento na tribuna.
“As pessoas se programam, vão para o aeroporto e simplesmente a aeronave não vai. O intuito da isenção do ICMS para o combustível era para que isso não acontecesse mais, para que barateasse e eles cumprissem com suas obrigações. Esta Casa está e se manterá vigilante quanto a esse serviço tão essencial para o nosso Estado”, completou Cidade.
Procurada pela reportagem, a Azul Linhas Aéreas informou que os preços variam conforme alguns fatores, como o trecho, o período e a compra antecipada. Alta do dólar também influencia no valor dos bilhetes aéreos, informou a companhia.
Leia a nota na íntegra:
A Azul esclarece que os preços praticados variam de acordo com alguns fatores importantes, como trecho, sazonalidade, compra antecipada, disponibilidade de assentos, entre outros. Fatores externos, como a alta do dólar, o preço do combustível e conflitos internacionais são elementos que também influenciam nos valores das passagens. Atualmente a Companhia opera em mais de 150 cidades, sendo a maior companhia em número de voos e destinos no Brasil.
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