O período de vazante dos rios Solimões, Purus e Madeira, no Amazonas, ganha um monitoramento especial por conta do fenômeno chamado de “Terras Caídas”, resultado da erosão da margem fluvial, que nos últimos três anos, afetou de forma direta moradores dos municípios de Japurá, Parintins, Canutama e de Boca do Acre, onde mais de 12 mil pessoas que sofreram com danos materiais por conta do fenômeno, segundo dados da Defesa Civil do Estado.
O fenômeno, segundo a geóloga Jussara Cury Maciel, pesquisadora em geociências do Serviço Geológico (CPRM), é resultante de processos de erosão fluvial muito frequente na região da bacia amazônica, cuja morfologia do terreno geralmente é composta por barrancas que se comportam como margens em fortes declives que chegam por vezes a mais de 80 graus.
“O próprio movimento das águas e o local do depósito favorecem o desprendimento do bloco, as vezes escava por baixo, quando aparece a fissura é porque já vai desprender”, explica Jussara, citando que após as cheias, são depositadas camadas de limos silto-arenosos e, durante a vazante, com o ressecamento e fendilhamento desses depósitos de vaza fluvial, os mesmos perdem sustentação e caem do topo da barranca. O resultado desse processo são grandes desbarrancamentos em falésias fluviais. “As obras portuárias já tentaram diferentes técnicas, mas como são solos moles, é difícil conter”, afirma.
Outro ponto destacado pela geóloga nesse processo é o papel exercido pela erosão pluvial nas barrancas desprovidas de qualquer cobertura vegetal, principalmente em áreas usadas por fazendas e pastagens na beira do rio, com a destruição da mata ciliar. “Neste processo a ação da chuva, ainda que secundária, coopera para a remoção e a lavagem dos blocos desestabilizados pelo fenômeno das terras caídas”, explica.
De acordo com o tenente Charlis Barroso, chefe de monitoramento e alerta da Defesa Civil do Estado, o monitorando da vazante dos rios está sendo feito em especialmente nas calhas do alto Juruá e alto Madeira, que estão com estiagem mais severa. A preocupação nesses casos é com o transporte de alimentação e combustível, que alimenta as usinas de energia termelétricas.
A Defesa Civil, segundo afirma, atua para redução de impactos. A atuação inicial é dos municípios que, para decretarem qualquer tipo de desastre, precisam em primeiro lugar passar pelo Sistema integrado de Informações sobre desastres (S2ID). Após ação inicial do município, estado e união entram com ações complementares.
No Amazonas, em 2019, houve registro do município de Japurá com 33 pessoas afetadas, que ficaram desalojadas e tiveram apenas danos materiais.
Em 2020, houve registro no município de Parintins, com 89 afetados e apenas danos materiais.
Em 2021, Parintins teve mais 92 afetados, além de Canutama com 648 e Boca do Acre com 11.992 atingidos, todos com danos matérias e sem nenhuma ocorrência de óbitos, de acordo com a Defesa Civil.
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