Encerrada a última semana de setembro, a vazante do rio Negro em Manaus atingiu a cota de 15m88, na última sexta-feira (29), e está a apenas 2m25 de alcançar o nível mais baixo das águas, em 121 anos de medições na régua do Porto de Manaus, quando em 2010 estacionou em 13m63.
Os especialistas não gostam de fazer previsões, mas como as águas têm descido em média 30cm nos últimos dez dias, é possível estimar que antes da metade de outubro uma nova vazante recorde chegará ao principal rio que banha a capital amazonense, com uma série de transtornos sociais e ambientais.
Para se ter ideia do ritmo desta vazante do rio Negro, o nível mínimo do rio em 2010 foi registrado no dia 24 de outubro, até lá, ao longo do mês, a descida máxima foi registrada nos dias 18, 17 e 18, quando o rio baixo 22 centímetros a cada dia.
Mudanças climáticas e a vazante do rio Negro
Se confirmar a formação de uma vazante recorde neste ano, o rio Negro terá registrado neste século seis das doze maiores secas da história desde o início da medição feita no Porto de Manaus.
A maioria dos cientistas responsabilizam as mudanças climáticas pela ocorrência mais frequente de fenômenos extremos, como grandes cheias e grandes cheias.
No caso deste ano, há um forte período de estiagem (ausência de chuvas) associado à falta de gelo nos Andes, que abastece o principal rio da bacia, o Amazonas.
As maiores secas do rio Negro em Manaus:
1 – 2010 ……………… 13m63;
2 – 1997 …………….. 14m34;
3 – 1926 …………….. 14m54;
4 – 1958 …………….. 14m74;
5 – 2005 …………….. 14m75;
6 – 1936 ……………. 14m97;
7 – 1998 ……………. 15m03;
8 – 1995 …………… 15m06;
9 – 2009 ………….. 15m86;
10 – 2015 ……….. 15m92
11 – 2012 e 1961…. 15m96
Impactos da vazante do rio Negro
O impacto da vazante do rio Negro abaixo da cota de 16 metros implica em várias consequências. A prefeitura de Manaus, por exemplo, decretou emergência na cidade e esta deverá ser reconhecida pela Defesa Civil do Estado, o que permite a tomada de ações mais rápidas para salvaguardar a vida dos habitantes.
Outra medida que deverá ser tomada nesta segunda-feira (2) é o fechamento da praia da Ponta Negra, o principal balneário de Manaus. A medida deve ser tomada, conforme Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com o Ministério Público, todos os anos em que o rio descer a níveis menores de 16 metros.
Em todo o Estado, mais de 500 mil pessoas estão em situação de vulnerabilidade em função da vazantes de rios da bacia Amazônica. Há preocupações com o abastecimento de combustível que é usado nas usinas termoelétricas da concessionária Amazonas Energia. Este combustível é levado de balsas até a sede municipal.
O Governo do Estado também tomou providências para garantir o abastecimento de municípios que só são atendidos e abastecidos de insumos básicos pelo transporte fluvial.
A economia da Zona Franca de Manaus também é afetada porque o transporte das matérias-primas usadas nas fábricas chegam a capital pelas hidrovias do Amazonas e Madeira, cujas cotas também estão abaixo da normalidade para este período.
A Superintendência da Zona Franca de Manaus e o Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) formaram um grupo para estudar alternativas ao desafio logístico de trazer insumos e escoar a produção enquanto a navegação estiver, no todo ou em parte, inviabilizada pela vazante.
Empresas do Polo Industrial de Manaus que estão com estoques abaixo do necessário para manter a produção no ritmo normal já anunciaram, como é o caso da LG Eletronics, ou estudam a concessão de férias coletivas para os trabalhadores como forma de redução de custos.
Nas principais bacias hidrográficas de Manaus, a do rio Tarumã-Açu e a do Puraquequara, a situação é de completa desolação nos flutuantes que vivem do turismo e do lazer.
No Tarumã, inclusive, a retirada dos flutuantes determinada pela Justiça se tornou completamente inviável para a maioria dos que deverão ser retirados, pois eles já foram levados para outros lugares ou estão no leito seco do rio.
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