O promotor de Justiça Walber Luís da Silva Nascimento disse que a advogada Catharina de Souza Cruz Estrela deturpou suas palavras com o objetivo de tumultuar e anular o julgamento de réus acusados de tentativa de homicídio contra uma mulher, que sofreu assédio no emprego e, por isso, foi demitida.
“Ela [a advogada] fez de tudo e mais um pouco para que o julgamento fosse anulado, que o conselho de sentença fosse dissolvido. Por conta dessa confusão, dois jurados passaram mal, tiveram pressão alta, e o médico do fórum desaconselhou eles continuarem no júri. Ou seja, foram jogados três dias de trabalho, três dias de júri, despesa com hotel, com jurado toda noite. O juiz não teve outra alternativa a não ser dissolver o conselho e adiar o julgamento”, disse Walber com exclusividade ao ATUAL.
O julgamento foi presidido pelo juiz Carlos Henrique Jardim da Silva.
De acordo com o promotor de Justiça, responsável pela acusação contra dois réus acusados da tentativa de homicídio, a comparação feita entre a advogada e uma cadela foi para chamá-la de desleal.
“Agora, essa advogada defendendo com unhas e dentes dois caras que tentaram matar uma mulher porque ela não aceitou o convite dos patrões para sair é um total desrespeito ao gênero mulher”, disse Walber Nascimento.
“E ainda se acha no direito de criar uma versão, dizendo que eu a desrespeitei como mulher e a ofendi, quando na verdade ela estava defendendo dois clientes que tentaram matar uma mulher que recusou convite dos patrões para sair”, completou.
O crime em julgamento e a versão de Walber
De acordo com relato de Walber Nascimento, a confusão ocorrida na manhã desta quarta-feira (13) foi durante o julgamento de tentativa de homicídio duplamente qualificado, praticado por dois réus contra uma vítima mulher, que antes sofrera assédio sexual.
O promotor de Justiça disse ao ATUAL que a vítima era funcionária de uma distribuidora de um dos réus, que também trabalhava no local. “Ela [a vítima] recebeu assédio sexual, convite para sair, do filho do dono e do dono. Ela recusou e foi mandada embora”.
Ainda de acordo com Walber, “no grupo de WhatsApp com outras duas colegas de trabalho ela disse que sabia porque tinha sido demitida: porque não tinha aceitado convite para sair, do dono da empresa e do filho dele. A partir disso, os réus criaram uma narrativa de que essa moça, vítima, ligava todos os dias para a esposa do dono da distribuidora, falando que ele a traía, sem que nada disso conste no processo”.
Walber disse que o filho, que assediou a ex-funcionária, alugou um revólver calibre 38, pegou um outro funcionário da empresa e foi esperar ela de tocaia, na casa dela.
“Quando a ex-funcionária chegou, entrou na rua, eles [os réus] passaram com o carro na frente dela e o funcionário desceu do carro e efetuou quatro disparos contra a moça. Um dos disparos perfurou o pulmão dela e ela passou mais de dez dias internada”.
De acordo com Walber Nascimento, foi nesse contexto, nessa cena de crime, que ele começou a tese de acusação contra os réus, dizendo que “infelizmente muitos homens tratavam as mulheres com descaso, com humilhação, por acharem que elas eram objetos sexuais e que deviam ceder a todos os caprichos deles. E que esse processo [em julgamento] retrata bem isso”.
Na sequência de sua explanação, o promotor de Justiça relatou que “cresceu entre seis irmãs, com minha mãe me dizendo para eu respeitar mulheres. Ela inclusive dizia ‘se você engravidar uma cachorra e ela chegar aqui grávida, você vai casar, mesmo que seja uma cachorra’. Eu falei isso”.
Ainda conforme relato do promotor de Justiça, na defesa, a advogada, “já veio gritando, me acusando de ter chamado todas as mulheres de cachorra”.
“Na réplica, eu disse para ela que ela estava distorcendo o que eu havia falado, que eu não tinha chamado nenhuma mulher de cachorra, que ela tinha entendido o contexto, e eu falei que sempre tive cachorros e uma característica dos cachorros é ser leal, e ela tinha sido desleal desde o primeiro dia do júri. Tinha sido desleal comigo, tinha sido desleal com os jurados, com o juiz…”.
“Eu chamei ela de desleal e ela distorceu o que eu havia falado para mandar mensagens de WhatsApp para o presidente da OAB, para os presidentes de comissões, dizendo que eu tinha chamado ela de cachorra no plenário do júri. E gravou eu falando exatamente o que estou dizendo. Apenas uma narrativa porque ela não queria que o julgamento fosse finalizado”, acrescentou Walber.
O promotor de Justiça afirmou que esse comportamento de Catharina é reicindente e que vai tomar providências contra a advogada.
“Infelizmente essa advogada ela já teve problemas com outros colegas no Tribunal do Júri. Já representou com outros colegas no Tribunal do Júri. Sempre sob essa alegação que está sendo ofendida em plenário, não é a primeira vez”, disse.
“Eu tomei minhas providências. Chamei o presidente da minha associação de classe, que foi até lá no plenário, na hora. Vários advogados que estavam lá, na hora da sessão, disseram para ele que não houve nenhuma ofensa da minha parte”.
Walber disse que o próprio juiz do caso, Carlos Henrique Jardim da Silva, não enxergou ofensa na tese de acusação.
“Todas as vezes que ela [a advogada] dizia para o juiz que eu a havia ofendido, o juiz dizia ‘excelência eu não vou aceitar sua questão de ordem porque eu não estou vendo o promotor ofendendo a senhora’. Ela foi se irritando. Vou tomar minhas providências, é claro e isso não vai ficar assim. Eu vou às últimas consequências, se for necessário”.
Reações
O presidente da OAB-AM (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Amazonas), Jean Cleuter, publicou vídeo em suas redes sociais, ao lado da advogada, manifestando apoio da entidade à associada. “Mexeu com uma advogada, mexeu com toda a advocacia”, diz Cleuter na abertura do vídeo. “Nós não podemos admitir qualquer tipo de afronta às prerrogativas”, afirmou, em resposta a uma provocação feita por Walber Nascimento em sua réplica. “As prerrogativas dos advogados são invioláveis, porque são prerrogativas dos cidadãos, da sociedade”.
“Eu fui onfendida em meu trabalho. O juiz nada fez para impedir. Então a classe unida, está buscando respeito. Eu realmente não precisava passar por isso no exercício da minha profissão”, disse a advogada Catharina Estrela.
A AAMP (Associação Amazonense do Ministério Público) emitiu, logo após a confusão, nota de apoio e desagravo a Walber Nascimento.
Em entrevista na sede da OAB-AM no final da tarde, o presidente regional da Abracrim (Associação Brasileira de Advogados Criminalistas), Vilson Benayon Filho, disse que a entidade representou contra o promotor Walber Nascimento no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), por abuso de autoridade.
O presidente Jean Cleuter disse que o Conselho da OAB-AM vai investigar, também, a conduta do juiz Carlos Henrique Jardim da Silva, por possível violação às prerrogativas da advogada Catharina Estrela.
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