Rodovia que interliga o Amazonas ao estado de Roraima, a BR-174 voltou a ser motivo para dor de cabeça entre empresários, turistas e moradores dos dois estados. Uma das rotas de escoamento de produtos feitos no Polo Industrial de Manaus, a estrada federal apresenta condições precárias em diversos trechos.
Deputados estaduais do Amazonas e de Roraima estão se debruçando sobre o assunto e pretendem criar uma comissão unindo as duas casas legislativas para cobrar, em conjunto, medidas efetivas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pela manutenção e conservação da estrada.
Para os deputados do Amazonas, a situação isola o estado cada vez mais. A outra ligação terrestre utilizada pelo setor produtivo é a BR-319, que conecta o estado ao restante do país, e que está intransitável em diversos trechos. No Careiro da Várzea, onde uma ponte desabou, ano passado, matando quatro pessoas, a travessia improvisada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro desmoronou.
Grande parte das mercadorias que abastecem Boa Vista são produzidas em Manaus e a estrada é a única rota para entrada de produtos, uma vez que a capital roraimense não possui portos.
“Como Boa Vista demanda muitos produtos que vêm ou passam por Manaus, o risco de desabastecimento por lá é muito grande. Na verdade, fornecemos para o comércio de Roraima, lá não tem porto, nem terminal de cargas no aeroporto, ou seja, eles dependem totalmente da BR-174”, disse o empresário Wilson Périco, segundo vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM).
Quanto à BR-319, o empresário salientou que pela condição histórica de precariedade da estrada as indústrias locais não a consideram como rota de escoamento de produtos.
É de Manaus, por exemplo, que sai o oxigênio que abastece os hospitais de Boa Vista. Fornecedora do gás para toda a rede pública de saúde, a empresa Carbox tem aumentado as despesas com manutenção dos caminhões que fazem o transporte do produto.
Além de alimentar toda a rede pública, a empresa também fornece o gás para a rede privada e indústrias nas áreas de metalurgia, construção e alimentação. Até choperias, bares e fabricantes de bebidas da cidade compram o gás de Manaus.
“A realidade é bem dolorosa. Nossos produtos são essenciais à vida e temos que chegar, independente das condições. A cada semana são diversos caminhões com danos caros de consertar. Ambulâncias nem sempre conseguem passar. Produtos perecíveis também sofrem”, disse o empresário Marcelo Dutra, um dos sócios da Carbox.
Assembleias querem cobrar governo federal
Sem diálogos durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os deputados do Amazonas e de Roraima devem se unir para cobrar o governo Lula por reparos na estrada. Na última terça-feira (14), uma comitiva de sete deputados estaduais de Roraima se reuniu, em Manaus, com deputados do Amazonas para discutir o problema.
Segundo a deputada Alessandra Campêlo (PSC-AM), a condição da rodovia federal BR-174 é lamentável e aumenta o isolamento regional.
“Roraima só consegue chegar ao Amazonas pela BR-174 e quando chega aqui continuamos ilhados, porque a BR-319 continua intrafegável. Somos ilhas, temos restrito o nosso direito de ir e vir. Isso afeta nossas economias, aumenta o custo das coisas aqui e em Roraima. A minha sugestão é que se faça uma Comissão das duas Assembleias para que possamos ir até nossas bancadas federais e que seja solicitado ao DNIT um relatório que explique o que foi feito nos últimos anos pelo DNIT com os recursos federais que recebe para atuar nessas estradas.”
De acordo com o deputado Renato Silva (Pros-RR), resolver o problema da estrada é uma questão de sobrevivência. Silva preside a Comissão de Viação, Transporte e Obras da Assembleia Legislativa de Roraima.
“É a única estrada que dá acesso ao restante do país. Se esta estrada ficar intrafegável em 48 horas, o estado de Roraima não terá mais energia. Sabemos que a responsabilidade é do Governo Federal, mas não impede que os estados façam convênio entre si. Pedimos o apoio da Assembleia do Amazonas para intervir e nos apoiar na solução desse problema”, pediu Renato Silva, ressaltando que a responsabilidade pela manutenção da estrada é do DNIT.
“A última viagem que eu fiz de carro pela BR-174 foi traumática. Tem muita gente daqui que tem negócios em Roraima daqui e precisa dessa estrada. É todo um prejuízo. Podem contar comigo nessa luta”, salientou o deputado Mário César Filho, responsável pela comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam).
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